quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Torcida organizada do Zenit presta um desserviço ao esporte e à humanidade

Reproduzirei um pequeno texto que postei em meu Facebook após ler a matéria "Torcedores aprovam manifesto contra jogadores negros e gays de organizada do Zenit" (http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26264/torcedores+aprovam+manifesto+contra+jogadores+negros+e+gays+de+organizada+do+zenit.shtml). Indico a leitura desta notícia antes de continuar lendo para melhor compreender meus dizeres.

Segue meu texto, cujo conteúdo, já adianto, é mais no sentido de expressar minha indignação. Não procurei construir argumentos (a meu ver) óbvios e não me preocupei em ser imparcial quanto a minha visão política sobre o caso e situações correlatas.

Através de um objetivo que considero plausível ─ qual seja, manter a identidade do clube com sua região e valorizar os atletas compatriotas ─ esses torcedores marginais apelam para meios completamente sórdidos e arcaicos. O manifesto contra negros e gays é absurdo (por inúmeros motivos que, espero, não preciso explicitar) e digno de punições por partes dos órgãos competentes ─ neste caso, a Federação Russa e a UEFA.

Apesar de uma postura como esta não ser tolerável e de ser exigível uma penalização oficial, é correta também a sugestão do secretário do sindicato dos jogadores e técnicos de futebol da Rússia, Nikolai Grammatikov, que disse que quando forem convidados para jogar na Rússia, "os jogadores, “principalmente os negros”, digam: “Perdão, eu adoraria participar do campeonato russo, mas o país precisa fazer alguma coisa. Eu não vou por causa dos racistas”."" Há inúmeros grandes jogadores negros enriquecendo o futebol russo. Uma postura organizada neste sentido, sem dúvidas, seria sentida por aqueles que não compartilham do pensamento dos neonazistas do Zenit, o que geraria a necessidade de uma postura conjunta para combater tal imbecilidade.

Por fim, mais uma distorção é feita ao compararem o mencionado manifesto da anencefalia com a posição do Athletic Bilbao. Como diz a matéria, o clube espanhol "só contrata jogadores de origem basca, mas como uma ferramenta pela sobrevivência da identidade basca e na luta pela separação da Espanha". Como é melhor explicado numa matéria do site "Olheiros" (http://www.olheiros.net/artigo/ler/1125), "só não é permitida pelos rojiblancos a entrada em seus escalões de jogadores que não possuam qualquer ligação com o País Basco e que sejam trazidos apenas por motivos econômicos", mas isso não quer dizer que não toleram jogadores de outros países ou que haja intolerância com a cor da pele de algum atleta ─ basta ler esta mesma matéria, mais especialmente na parte "Receita quase centenária", para entender.

Destarte, pode-se perceber, mais uma vez, a idiotia direitista (que não é muito diferente mesmo estando presente em diversos lugares): aponta-se um objetivo aparentemente plausível, mas, para isso, utilizam-se de meios completamente irracionais, desumanos, imbecis e sem caráter, além de argumentos integralmente falaciosos, sofismas, para parecer que buscam o fim da forma correta. 

É triste perceber que muitos, em pleno século XXI, após tantos avanços filosóficos, científicos, sociológicos, antropológicos, jurídicos, históricos, políticos e muitos outros, ainda se orgulham em defender uma postura tão anacrônica; se sentem felizes em utilizar como exemplo um pensamento do Império Russo ou de outra instituição humanamente criminosa de séculos ou décadas atrás.

Vinícius Franco
colunista do Canal #Sports