terça-feira, 29 de julho de 2014

Quem pode ajudar a renovar a mentalidade nos clubes?


  • POR QUE RENOVAR?

Após os 7 a 1 sofridos pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014, começou-se a perceber que a derrota, tanto pelo mérito da equipe ora vencedora quanto pelo despreparo dos tupiniquins, se deu, também, pela diferença na mentalidade do futebol praticado — não apenas devida à então comissão técnica da "Seleção Canarinho", mas também por todo o trabalho (não) realizado nas divisões de base.

Diante disto, e espelhando-se na Alemanha, com razão, muitos começaram a pregar uma renovação no futebol brasileiro, começando por dar mais valor aos jovens atletas que um dia podem a vir a ser craques — ou, o principal, para ser coerente à nova filosofia que se pretende adotar, compor bem um time sólido.

A necessidade de renovação, contudo, não ficou adstrita à perspectiva da seleção nacional, mas se expandiu também aos olhares sobre os clubes brasileiros: será que os treinadores a que os maiores clubes recorrem — a exemplo de Flamengo com Luxemburgo e Grêmio com Scolari — possibilitam uma nova mentalidade, apta a perceber que o "futebol pentacampeão" tem muito a aprender? Além disso, será que os veteranos "medalhões" que muitas vezes servem de afago às torcidas de grandes clubes em crise realmente representam efetivas soluções, ainda que, de fato, tragam melhorias imediatas (e nem sempre significativas) à equipe? Deve-se focar tanto no fator "presente", quando se precisa se mudanças estruturais, que demandam médio ou longo prazo?

Tentando buscar respostas a estes questionamentos, que se reforçaram após as contratações já referidas (Luxa e Felipão), quis analisar se há, especialmente nas divisões inferiores do Campeonato Brasileiro, novos nomes que podem representar forças renovadoras da mentalidade dos clubes brasileiro. De pronto esclareço que não objetivo aqui encontrar treinadores que, necessariamente, fariam milagres e salvariam o ano de 2014 de clubes como Flamengo, Botafogo, Grêmio, Vasco e outros: a ideia é tentar achar novas mentalidades que podem propiciar bons resultados com o tempo, à maneira que muitas vezes se faz no futebol europeu.

Antes de ir aos nomes, esclareço também que tentei manter o foco na Série B partindo do pressuposto de que os treinadores atualmente em atividade na Série A já estão "bem empregados" e, exceto se demitidos, dificilmente iriam para outra equipe da mesma divisão. Do contrário, mencionaria, por exemplo, Eduardo Baptista, que vem fazendo ótimo trabalho no Sport e que, apesar de ter apresentado resultados positivos muito rapidamente, é dono de uma mentalidade extremamente empolgante por ser mais alinhada ao que se busca, como bem se demonstra nessa entrevista concedida à ESPN: http://espn.uol.com.br/noticia/428492_sensacao-filho-de-nelsinho-estuda-simeone-e-crava-guardiola-nao-aguenta-2-anos-no-brasil

Para não alongar ainda mais o já longo post, mencionarei os treinadores que vêm realizando bons trabalhos na Série A em outra oportunidade. Ademais, não me considerei em condições de buscar por bons nomes nas Séries C e D.


  • QUEM, FORA DA SÉRIE A, APARENTA PODER RENOVAR?

Faz-se necessária mais uma observação: não foi fácil encontrar nomes, apontar para eles e dizer "esses são indubitavelmente capazes de realizar um longo e frutífero trabalho!", exatamente pelo costume dos dirigentes brasileiros de demitir treinadores após 10, 7 e até mesmo 3 jogos. Ainda assim, alguns merecem ser mencionados:

Sérgio Soares, atualmente no comando do Ceará, começou bem sua experiência de treinador: compondo a comissão técnica do Santo André, em 2004, sagrou-se campeão da Copa do Brasil. Quando Péricles Chamusca foi para o São Caetano, Sérgio assumiu o time campeão de forma efetiva, levando o clube à 4ª colocação do Campeonato Paulista. Nos anos seguintes, passou por Grêmio Barueri e Juventus-SP, mas voltou a ter sucesso mesmo quando retornou ao Santo André e conseguiu acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, tendo na Série B ficado atrás apenas do Corinthians. Passando por alguns outros clubes, mais uma vez, vê-se bem sucedido quando firma mais uma passagem pelo "Ramalhão" — sua quarta — e chega à final do Campeonato Paulista, sendo derrotado pelo Santos na ocasião. Em outubro do mesmo ano, assume o Atlético Paranaense, terminando a Série A a uma colocação da classificação para a Libertadores. Após breves passagens por Grêmio Barueri, Cerezo Osaka-JAP e Avaí, Sérgio Soares assumiu o Ceará em 2013, levando o clube da 17ª à 5ª posição na Série B, a 1 ponto do acesso para a Série A. Tendo o "Vozão" apostado na continuidade do treinador, Soares levou o alvinegro ao vice-campeonato da Copa do Nordeste 2014 — quando o campeão foi o Sport do já mencionado bom Eduardo Baptista — e ao título do Campeonato Cearense, derrotando o rival Fortaleza na final. Atualmente (29/07/2014), o Ceará, comandado por Sérgio Soares, lidera a Série B com 4 pontos de vantagem para o segundo colocado, América-MG. Talvez Sérgio Soares seja um nome plausível para algum clube da Série A que queira um bom trabalho a médio/longo prazo...

Hemerson Maria está hoje à frente do time principal do Joinville, que integra o G4 da Série B. No entanto, seu currículo de treinador tem 9 anos — de 2001 a 2010 — comandando categorias de base, mais especificamente as do Figueirense, no qual dirigiu o time algumas vezes na Copa São Paulo de Juniores e também a equipe principal, de forma interina, em certas ocasiões. Em 2011, troca as divisões de base do Figueirense pelas do rival Avaí, onde foi efetivado à frente do time principal em 2012, levando um desacreditado time ao título do Campeonato Catarinense. Ao longo da Série B, foi demitido, indo posteriormente para o Red Bull Brasil-SP, tendo, contudo, voltado a realizar boa campanha no CRAC, de Goiás, onde salvou o time de um iminente rebaixamento e, em seguida, levou o clube de forma inédita à terceira fase da Copa do Brasil, eliminando Náutico e Betim. Tendo deixado o clube durante a Série C, voltou ao Avaí, onde não retomou o sucesso, mas foi anunciado como novo treinador do Joinville no final de 2013 para comandar a equipe em 2014. No Campeonato Catarinense, chegou à final, vencendo o primeiro jogo por 2x1 e perdendo o segundo pelo mesmo placar, o que deu o título ao Figueirense, devido à melhor campanha. Neste momento, o Joinville ocupa a 3ª colocação da Série B, a 4 pontos do líder Ceará. Hemerson ainda não teve grande sucesso em campeonatos nacionais, mas tem experiência em categorias de base, já experimentou alguns sucessos e sinaliza a possibilidade de uma boa Série B com o JEC.

Oliveira Canindé tem um currículo razoavelmente longo em equipes nordestinas desde 2004, quando começou a treinar o Limoeiro-CE. Em 2006, foi campeão piauiense com o Parnahyba, mas seu primeiro grande feito foi levar o Guanany de Sobral-CE ao título da Série D do Campeonato Brasileiro. Pouco depois, em 2013, levou o Campinense a um surpreendente título da Copa do Nordeste. Foi contratado pelo CSA, de Alagoas, em 2014, quando se classificou às quartas-de-final deixando para trás o tradicional Bahia na fase de grupos. No mesmo ano, mudou-se para o América de Natal, sagrando-se campeão do Campeonato Potiguar. Na Série B, o América aparece na 7ª colocação, a 3 pontos do G4, que dá acesso à Série A. Mesmo sem muitas conquistas de relevância, Oliveira Canindé parece sinalizar ser capaz de executar bons trabalhos e vem ascendendo desde 2010. Vejamos até onde conseguirá levar o América-RN.

Lisca, hoje treinador do Sampaio Corrêa, tem um belo currículo em divisões de base. Entre Internacional, São Paulo, Grêmio e Fluminense, já conquistou campeonatos gaúchos, paulistas e um brasileiro de categorias de base. Começou a dirigir equipes principais em 2007, no Brasil de Pelotas, tendo levantado títulos com o Porto Alegre (2ª divisão do Campeonato Gaúcho, 2009), Luverdense (Copa Mato Grosso, 2011) e Juventude (Copa FGF 2010). Chegou a treinar o Náutico, em 2013, e agora está no comando do Sampaio Corrêa, que está a uma posição de entrar no G4 da Série B.

Zé Teodoro treinou muitos (muitos!) clubes desde 1996, mas teve feitos consideráveis em alguns: campeão pernambucano com o Náutico, em 2004; campeão cearense em 2006, com o Ceará; do mesmo estadual, em 2010, desta vez com o rival Fortaleza; e bicampeão pernambucano com o Santa Cruz, em 2011 e 2012. Hoje, Zé Teodoro está à frente do ABC, que se encontra na 8ª colocação da Série B, a 3 pontos do G4. Não teve conquistas a nível nacional ainda, mas parece ter mostrado que pode ser uma opção plausível a médio/longo prazo, especialmente para a Série B. Se se confirmar sua competência, quem sabe não pode figurar na Série A daqui a um tempo...


  • COMO RENOVAR?

Renovação de mentalidade e mudança estrutural passam também pela filosofia do treinador, que pode pretender aproveitar garotos das divisões de base, estimulando o preparo destas por parte do clube, e adotar estratégias alinhadas ao futebol moderno, como compactação dos setores, valorização da posse de bola, marcação por parte dos 10 homens de "linha", dentre outras características. No entanto, grandes trabalhos não serão  efetivamente possíveis se a mentalidade dos dirigentes brasileiros não mudar. É preciso investir nas divisões de base, propiciando um real desenvolvimento de jovens jogadores — dando-os, obviamente, todas as condições necessárias ao pleno desenvolvimento de um ser humano —, com a coordenação de profissionais competentes e comunicação entre todos os "níveis" do clube, bem como investir num projeto, o que inclui permitir que treinadores trabalhem e desenvolvam suas maneiras de trabalhar, o que pode dar bons resultados apenas a médio ou longo prazo.

Pretendi, com este post, tentar responder meu próprio questionamento, que foi direcionado a alguns jornalistas esportivos no Twitter (os quais, infelizmente, não me responderam): contratações de nomes como Luxemburgo e Felipão podem representar certo "retrocesso" e um desejo de apenas dar uma resposta imediata às torcidas, mas será que há bons nomes nas divisões inferiores que poderiam desenvolver um bom trabalho? Concluo que talvez sim, com os nomes que apontei. Mas, sem dúvidas, seriam, em sua maioria, apostas, talvez bem arriscadas.

Esqueci-me de alguém? Espero sua contribuição nos comentários.

Vinícius Franco - @franconio
29 de fevereiro de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

Abaixo das expectativas e graças a brilho singular de Messi, Argentina vence

A magia da partida entre Argentina e Bósnia Herzegovina, pelo grupo F da Copa do Mundo, se mostrou logo antes do início do confronto, quando argentinos tomaram o Maracanã, fazendo-o parecer mais La Bombonera ou o Monumental de Nuñez. De se esperar, então, que os encantos albicelestes seriam elevados ao cubo com a atuação de um time que tem Messi, Agüero, Di María, Máxi Rodríguez, Higuaín e cia. Não foi bem por aí.

A Bósnia mal pôde se orgulhar de estar debutando em Copas e já sofreu seu primeiro gol. E da forma mais dolorida: contra. Messi cobrou falta pela esquerda, a bola foi desviada e, no meio do caminho, encontrou a perna de Kolasinac, lateral-esquerdo bósnio. 1 a 0 para encher os hermanos de confiança... ou não. Os primeiros quarenta e cinco minutos foram pouco movimentados, com uma Argentina formada por três zagueiros e Messi entre os homens de frente — junto de Agüero. Pouco se produziu. Di María, no meio-ataque pela esquerda, e Máxi Rodríguez, pela direita, não conseguiam criar. Zabaleta subiu bem para o apoio em algumas oportunidades, mas sem êxito.

A equipe europeia, por sua vez, esboçava tramas com os homens de meio — Lulic, Misimovic e Pjanic (da esquerda para a direita) —, mas também não conseguiam produzir nada muito ameaçador, ficando Dzeko pouco municiado — bem como Lulic, que também chegava à frente. Quanto atacavam, até então, Romero garantia o zero no placar adversário.

Alejandro Sabella pareceu também não ter ficado satisfeito com a exibição de seu time na primeira etapa e, ainda no intervalo, fez duas modificações: Higuaín no lugar de Máxi Rodríguez, fazendo com que Messi jogasse mais junto ao meio, partindo de trás, com maior liberdade, mais próximo da função que usualmente desempenha no Barcelona; e Gago no lugar de Campagnaro, desfazendo a linha de três zagueiros para adicionar mais um homem à volância, ao lado de Mascherano.

A partir de então, a peleja ficou mais movimentada. Lionel Messi esboçava algumas arrancadas, mas, na realidade, era a Bósnia que, mesmo sem alterações, havia voltado melhor para a segunda etapa. No entanto, quando o cilj ("gol", em bósnio — de nada) dos Lions parecia amadurecer, no mais genuíno toco y me voy argentino, Messi tabela com Higuaín e, ao receber, deixa dois zagueiros bósnios para trás. Ao passar pelo terceiro, chuta de fora, indefensável, no canto, para a bola ainda encontrar a trave e, aumentando a tensão da maior parte da torcida no Maracanã, só depois descansar na rede. 2 a 0. Golaço do jogador mais vezes eleito melhor do mundo (4).

Entretanto, não foi apenas Sabella que parece ter mexido bem em seu time: no decorrer do segundo tempo, Safet Susic tira um lateral-direito (Mujdza) para colocar Ibisevic, atacante, que faz companhia fixa a Dzeko no ataque (este mais pela direita) e deixa Lulic mais restrito à armação pela esquerda. E foi assim que surgiu o primeiro tento bósnio da história das Copas: Lulic enfiou uma bola rasteira nas costas da defesa sul-americana e Ibisevic, finalizando entre as pernas de Romero, diminuiu. E o placar assim quedou: Argentina 2 a 1 Bósnia.

A seleção argentina precisa explorar mais seu setor de criação e a capacidade de seus homens de frente para aspirar a algo grande neste Mundial. O caminho, todavia, já pode ser vislumbrado: Messi partindo de trás, menos preso à área. Mas Di María e Agüero também precisam se encontrar. Já a Bósnia mostrou que, num grupo com Irã e Nigéria (que ainda jogarão), talvez consiga beliscar uma vaga nas oitavas.

Vinícius Franco
15 de junho de 2014

A França podia mais, mas teve Benzema; o futebol teve a tecnologia

De um lado, um campeão mundial, uma das seleções mais fortes das últimas duas décadas. Do outro, um país que vai à Copa do Mundo apenas pela terceira vez em sua história (1982 e 2010), nunca tendo vencido uma partida sequer (3 empates e 3 derrotas) em Mundiais. Desta vez, a zebra de Uruguai x Costa Rica não deu as caras. Deu o óbvio: França 3 a 0.

Les Bleus, no entanto, apesar do fracasso da Copa de 2010, podia mais. O meio-de-campo é forte e de muita qualidade no passe com Cabaye, Matuidi e Pogba, somado ao poderio ofensivo do ataque formado por Valbuena (pela direita), Griezmann (à esquerda, durante a maior parte do jogo) e Benzema (centralizado), mas poderia ter demonstrado mais criatividade e oferecido mais perigo, principalmente devido ao fraco adversário — que só pensa um pouco mais além de bater quando o solitário Costly tem a bola. Um dos principais erros da França na partida, a meu ver, foi não apostar em jogadas de habilidade dentro da área adversária. Honduras joga com praticamente todo o time atrás, mas não acompanha bem os atacantes rivais.

Sem muita criação, a válida opção francesa foi buscar passes nas costas da defesa da seleção centro-americana: primeiro, com Cabaye enfiando uma bela bola pelo alto, encontrando o peito de Pogba na área, que, ao dominar, foi derrubado por Palacios, originando o pênalti em que Benzema abriu o placar; depois, mais uma vez em profundidade, Benzema recebe* na esquerda, finaliza cruzado e nasce, então, um momento histórico para o futebol. A bola acerta a trave, vai em direção ao goleiro Valladares e este a coloca para dentro, num lance que, a olho nu, ainda que com replay, muitas dúvidas perdurariam. A tecnologia da linha do gol, contudo, mostra que a bola entrou. Imagens disseminadas em seguida na internet comprovaram que a marcação foi correta. Um esporte sério e de alto nível, hodiernamente, não pode abrir mão da tecnologia. Que este marco histórico se dissemine!

Mais tarde, na metade do segundo tempo, após chute de fora do bom apoiador Debuchy — chega à linha de fundo o tempo todo! —, a bola sobra para o artilheiro Karim Benzema, que, novamente, não perdoa.

A França começa bem, mas com mais entrosamento e talvez treinamento, tem potencial para se tornar uma incômoda pedra nas chuteiras de qualquer um que a enfrentar. Honduras, por sua vez, deve se orgulhar por ter vindo à sua terceira Copa.

* infelizmente, não consegui identificar o jogador que deu o belo passe para a finalização de Benzema no segundo gol. Quem souber, por favor, comente!


Vinícius Franco
15 de junho de 2014

Behrami e Seferovic são heróis em partida impecável de Djourou

Os primeiros quarenta e cinco minutos de Suíça x Equador não foram dignos do "Selo Copa 2014 de Qualidade". Com poucos momentos emocionantes, o gol de Enner Valencia e a habilidade de Jefferson Montero foram insuficientes para atingir o nível das outras partidas deste Mundial.

A segunda etapa, no entanto, comprovou que certamente, no intervalo, os jogadores de ambas as equipes assistiram no vestiário a uma compilação dos melhores momentos das oito partidas anteriores. Logo com dois minutos de bola rolando, Mehmedi, que havia acabado de entrar, igualou de cabeça. Daí em diante, Jefferson Montero, pela esquerda, com habilidade e velocidade, continuou fazendo a defesa suíça suar, bem como Enner Valencia, sempre perigoso na linha de frente.

Apesar da rapidez equatoriana, a Suíça também ameaçava: ora com Inler e suas venenosas finalizações de fora da área, ora com a velocidade de Shaqiri. O momento mais heróico da equipe europeia, entretanto, veio nos acréscimos, faltando 1 minuto para o apito final: o Equador partia em bom contra-ataque com Arroyo, que, na entrada da área, quando se preparava para finalizar e sacramentar mais uma vitória latinoamericana, foi desarmado de maneira providencial por Behrami, que seguiu conduzindo a bola, a qual chegou a Rodríguez, bom apoiador, que cruzou para Seferovic — o qual também entrou apenas no segundo tempo: mais um ponto para Hitzfeld! — implodir o Equador. Mais uma virada, mais êxtase na Copa. Até agora, nenhum empate.

O dono da partida, a meu ver, todavia, não estava no ataque de nenhuma das equipes, e sim na defesa: o costamarfinense naturalizado suíço, zagueiro do Hamburgo, Johan Djourou. Não fosse por seus desarmes providenciais e impecáveis, é provável que Jefferson Montero tivesse dado mais trabalho a Benagl. Ainda que jogando à direita da defesa europeia, apareceu por vezes na esquerda para neutralizar ofensivas equatorianas. Levou um cartão por impedir Enner Valencia de progredir depois de bela enfiada de Ayoví, mas, no todo, foi magistral. Zagueiraço!

E que venha França x Honduras!

Vinícius Franco
15 de junho de 2014

Três dias, oito êxtases

Comungo, em grande parte, com as críticas relacionadas à maneira pela qual a Copa do Mundo de 2014 foi e está sendo organizada: (i)moralidade dos gastos públicos, planejamento do legado (?) para a sociedade brasileira, retorno social dos investimentos em todos os âmbitos, etc. Não abono, portanto, o evento de acusações negativas.

No entanto, ainda que não se possa dissociar o futebol da sociedade e um megaevento da política, ainda é possível — e forçoso — contemplar a fascinação e a alegria que o futebol proporciona, especialmente num Mundial, um campeonato que envolve inúmeras nações e culturas e que provoca um clima inigualável de vida ou morte nas equipes dentro das quatro linhas. E tudo isso vem sendo ratificado, e em triplo, na Copa do Brasil.

A magia da Copa de 2014 começou já na estreia. Em meio a cantos a plenos pulmões dos brasileiros, a Croácia, logo no início, deu-nos uma ducha de água fria. Em pleno Itaquerão, palco do trauma corintiano, nos lembrou da inauguração do estádio, quando o fraquíssimo Figueirense derrotou o dono da casa. O drama não se repetiu, entretanto, pois a maior estrela da seleção pentacampeã anotou dois tentos, colocando o Brasil na frente. O destaque, todavia, foi Oscar, premiado com o terceiro gol por sua brilhante atuação. Por sua habilidade (era água entre os croatas!), sua garra e sua assistência, foi o melhor em campo, junto com o implacável David Luiz. Zagueiraço!

Os maiores êxtases para os amantes de futebol, contudo, vieram depois: o atropelamento histórico e furioso da Holanda sobre La Fúria, atual campeã, foi, até o momento, o ponto alto deste Mundial que não decepcionou um segundo sequer dentro dos gramados. Robben e van Persie capitanearam um dos episódios mais memoráveis da história das Copas. No mesmo dia, porém, outras partidas, das quais não se esperava muito, também fascinaram: México venceu Camarões pelo placar mínimo, mas mereceu ter saído de campo com um 3 a 0 — que ocorreria, não fosse a péssima arbitragem — num jogo muito movimentado. Igual emoção não faltou em Chile 3x1 Austrália, jogado frente a uma invasão chilena em Cuiabá — e, neste ponto, como é bom ter a Copa disputada perto de países latinoamericanos e suas torcidas genuinamente latinas! Inobstante o placar, a vitória só foi decidida no fim, com um chutaço de Beausejour, porque a seleção da Oceania mostrou que teve motivo para ser transferida às eliminatórias da Ásia.

O terceiro dia começou com aquele que, a meu ver, foi o jogo "menos jogão" da Copa até o momento... e foi um 3 a 0. A Colômbia não teve problemas para passar sobre a fraca Grécia, mas o principal encanto foi a torcida colombiana, que, a exemplo da chilena, tomou Belo Horizonte, nos fazendo pensar, por alguns instantes, se o Mundial não estava sendo sediado de forma conjunta.

Logo em seguida — e esse episódio merece mesmo um parágrafo a parte —, a zebra debutou nesta Copa: Uruguai e Costa Rica se enfrentaram pelo grupo da morte, que conta com três campeões do mundo (além da Celeste, Inglaterra e Itália). Natural que a seleção caribenha, que vai à Copa apenas pela quarta vez, com um histórico de apenas três vitórias nas anteriores, fique em último, sem ameaças aos demais. Mas a seleção costarriquenha provavelmente é ávida leitora de Bertolt Brecht, que dizia: "nada deve parecer natural; nada deve parecer impossível de mudar". De virada e com uma atuação fantástica de Joel Campbell, a Costa Rica venceu o Uruguai por 3 a 1 e lidera o grupo da morte. O futebol é fascinante e a Copa do Mundo amplifica em 100% sua magia.

No referido grupo (D), como principal atração do dia, duelaram Itália e Inglaterra. Não se espera que será um jogo menos do que bom... mas estamos vivendo a Copa de 2014: a peleja foi espetacular! Regida pelo maestro Andrea Pirlo, a Azzurra, embora tenha encontrado uma forte Inglaterra de Daniel Sturridge, calou os que insistem em rotulá-la como a equipe do catenaccio e, pelos pés de Marchisio e Candreva e cabeça de Super Mário Balotelli, também produziu uma partida memorável no Mundial do Brasil.

No apagar das luzes do dia; no cobrir dos cobertores; naquela que poderia ser uma partida para os que sofrem de insônia; às 22h, Japão e Costa do Marfim produziram um encontro de mais torcidas entusiasmadas na Copa — e assim ficaram também os meros apaixonados pelo esporte bretão que assistiram ao match: após um primeiro tempo dominado pelo Japão, a Costa do Marfim, depois da entrada de Didier Drogba — que não participou de nenhum dos gols, mas comprovou, com sua lucidez ímpar, que não pode estar no banco — virou o jogo em dois minutos, com duas assistências de Aurier, dominando os quarenta e cinco minutos finais.

Nesta toada, a Copa pode durar até 2015. Cancelem os campeonatos nacionais! Ainda há muita bola para rolar e não tenho tanto conhecimento de Mundiais de outrora, mas talvez a Copa do Brasil esteja dando mostras de que, quem sabe, pode ser a Copa das Copas (ao menos dentro de campo). Uma coisa, porém, é certa: o início já é muito melhor do que os das duas anteriores. 8 jogos, 28 gols (média de 3,5 por jogo, a maior desde 1958) e oito grandes partidas. Desse jeito, não perderei um segundo nem de Irã x Nigéria.

Vinícius Franco
15 de junho de 2014

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Torcida organizada do Zenit presta um desserviço ao esporte e à humanidade

Reproduzirei um pequeno texto que postei em meu Facebook após ler a matéria "Torcedores aprovam manifesto contra jogadores negros e gays de organizada do Zenit" (http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26264/torcedores+aprovam+manifesto+contra+jogadores+negros+e+gays+de+organizada+do+zenit.shtml). Indico a leitura desta notícia antes de continuar lendo para melhor compreender meus dizeres.

Segue meu texto, cujo conteúdo, já adianto, é mais no sentido de expressar minha indignação. Não procurei construir argumentos (a meu ver) óbvios e não me preocupei em ser imparcial quanto a minha visão política sobre o caso e situações correlatas.

Através de um objetivo que considero plausível ─ qual seja, manter a identidade do clube com sua região e valorizar os atletas compatriotas ─ esses torcedores marginais apelam para meios completamente sórdidos e arcaicos. O manifesto contra negros e gays é absurdo (por inúmeros motivos que, espero, não preciso explicitar) e digno de punições por partes dos órgãos competentes ─ neste caso, a Federação Russa e a UEFA.

Apesar de uma postura como esta não ser tolerável e de ser exigível uma penalização oficial, é correta também a sugestão do secretário do sindicato dos jogadores e técnicos de futebol da Rússia, Nikolai Grammatikov, que disse que quando forem convidados para jogar na Rússia, "os jogadores, “principalmente os negros”, digam: “Perdão, eu adoraria participar do campeonato russo, mas o país precisa fazer alguma coisa. Eu não vou por causa dos racistas”."" Há inúmeros grandes jogadores negros enriquecendo o futebol russo. Uma postura organizada neste sentido, sem dúvidas, seria sentida por aqueles que não compartilham do pensamento dos neonazistas do Zenit, o que geraria a necessidade de uma postura conjunta para combater tal imbecilidade.

Por fim, mais uma distorção é feita ao compararem o mencionado manifesto da anencefalia com a posição do Athletic Bilbao. Como diz a matéria, o clube espanhol "só contrata jogadores de origem basca, mas como uma ferramenta pela sobrevivência da identidade basca e na luta pela separação da Espanha". Como é melhor explicado numa matéria do site "Olheiros" (http://www.olheiros.net/artigo/ler/1125), "só não é permitida pelos rojiblancos a entrada em seus escalões de jogadores que não possuam qualquer ligação com o País Basco e que sejam trazidos apenas por motivos econômicos", mas isso não quer dizer que não toleram jogadores de outros países ou que haja intolerância com a cor da pele de algum atleta ─ basta ler esta mesma matéria, mais especialmente na parte "Receita quase centenária", para entender.

Destarte, pode-se perceber, mais uma vez, a idiotia direitista (que não é muito diferente mesmo estando presente em diversos lugares): aponta-se um objetivo aparentemente plausível, mas, para isso, utilizam-se de meios completamente irracionais, desumanos, imbecis e sem caráter, além de argumentos integralmente falaciosos, sofismas, para parecer que buscam o fim da forma correta. 

É triste perceber que muitos, em pleno século XXI, após tantos avanços filosóficos, científicos, sociológicos, antropológicos, jurídicos, históricos, políticos e muitos outros, ainda se orgulham em defender uma postura tão anacrônica; se sentem felizes em utilizar como exemplo um pensamento do Império Russo ou de outra instituição humanamente criminosa de séculos ou décadas atrás.

Vinícius Franco
colunista do Canal #Sports

terça-feira, 7 de setembro de 2010

7 de setembro, dia da excelência da Argentina

Em pleno Dia da Independência do Brasil, o país que se destacou no esporte foi o nosso vizinho (e maior rival): Argentina.

Nas oitavas-de-final do Mundial de Basquete, realizado na Turquia, mesmo com uma belíssima atuação da seleção brasileira (com destaque especial para Marcelinho Huertas - simplesmente craque) que deixou o jogo acirrado o tempo inteiro, os argentinos venceram com uma atuação impecável do paranormal Luís Scola. Alguém o ensina a errar?

Além disso, no futebol, a Argentina não tomou conhecimento da campeã mundial Espanha, que foi atropelada por 4 gols a 1, com um desfile de Carlos Tévez e Lionel Messi.

7 de setembro, dia da excelência da Argentina.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mais uma consequencia do "jeitinho Conmebol de ser"

Sempre fui contra a participação de times mexicanos na Libertadores.

Primeiro, porque a confederação continental à qual o México pertence é a Concacaf, e não a Conmebol - que rege o futebol sul-americano.

E meu segundo ponto é uma consequência do primeiro: por não ser filiado à Conmebol, caso um time mexicano vença a Libertadores, não terá direito a uma vaga no Mundial de Clubes da FIFA por esta conquista. Isto é, o vice será o "campeão" na competição que reúne os campeões de todos os continentes.

Isto poderá acontecer em 2010. Por ter vencido o Universidad de Chile por 2 a 0 no jogo de volta (o primeiro foi 1 a 1), o Chivas Guadalajara (que já entrou na Libertadores deste ano nas oitavas-de-final, por causa da gripe suína - agravada em seu país - no ano passado) tem direito a uma vaga na final da mais importante competição de clubes da América do Sul.

A outra semifinal é entre São Paulo e Internacional. Sendo assim, temos a garantia de que um time brasileiro estará no Mundial de Clubes em dezembro - merecendo ou não. Mais uma vez.

Em 2000, Corinthians e Vasco, graças a um convite sem muito critério da FIFA. Em 2010, São Paulo ou Inter, graças à insistência da Conmebol em convidar times da América do Norte para competições da América do Sul.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A "quase liderança" do Fluminense

Com o empate entre os dois primeiros colocados do Brasileirão (Corinthians e Ceará) ontem, bastava uma vitória em casa contra o Grêmio Prudente, que está na zona de rebaixamento, para o Fluminense assumir a ponta do campeonato. Teoricamente, seria fácil. Na prática, dominar o jogo também. Difícil foi mexer no placar de forma que a partida fosse refletida no marcador.

Dominando o jogo do início ao fim (salvo umas duas ou três chances de gol que o time paulista teve no primeiro tempo), o Fluminense claramente foi o melhor em campo e teve inúmeras oportunidades de vencer com tranquilidade - até mesmo de golear. Fred recebeu várias bolas em condições de marcar, assim como Conca e também Alan, que foram muito bem abastecidos de bons passes por Carlinhos e principalmente pelo lateral-direito Mariano. Mas somente uma finalização fez balançar a rede adversária.

Com muitas chances desperdiçadas, aquele clássico ditado futebolístico pôs-se em prática: "Quem não faz, leva". Num contra-ataque mortal aos 38' do segundo tempo, Wesley igualou o placar.
O tricolor carioca continuou pressionando, mas sem sucesso.

Muricy Ramalho tem um ótimo elenco em mãos. E não é só no papel: o time joga um jogo fluido, objetivo e bom de se assistir. Mas hoje pecou nas finalizações e nos "últimos passes". Com a possível chegada de Deco (que deve entrar no lugar de Marquinhos, se o esquema de jogo - 4-4-2 - não for mudado por Muricy) e a garantida de Belletti (que dificilmente tirará a vaga de Mariano, mas pode atuar também no meio) o Fluminense ficará ainda melhor. Me parece ser um dos candidatos ao título. Mas só ganha jogo (e consequentemente campeonato) quem faz gols. E hoje o tricolor pecou neste fundamento.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Seleção da Copa de 2010

Depois de uma seleção bem futurista, venho fazer algo mais recente.

O amigo Michel Costa, do blog Além das 4 Linhas, propôs aos seus leitores que elegessem a seleção da Copa do Mundo deste ano. Bem, assim ficou a minha:

E na reserva: Casillas (Espanha), Lahm (Alemanha), Lugano (Uruguai), Tulio Tanaka (Japão), van Bronckhorst (Holanda), Busquets (Espanha), Özil (Alemanha), Xavi (Espanha), Donovan (EUA), Honda (Japão) e Klose (Alemanha).