domingo, 15 de junho de 2014

Três dias, oito êxtases

Comungo, em grande parte, com as críticas relacionadas à maneira pela qual a Copa do Mundo de 2014 foi e está sendo organizada: (i)moralidade dos gastos públicos, planejamento do legado (?) para a sociedade brasileira, retorno social dos investimentos em todos os âmbitos, etc. Não abono, portanto, o evento de acusações negativas.

No entanto, ainda que não se possa dissociar o futebol da sociedade e um megaevento da política, ainda é possível — e forçoso — contemplar a fascinação e a alegria que o futebol proporciona, especialmente num Mundial, um campeonato que envolve inúmeras nações e culturas e que provoca um clima inigualável de vida ou morte nas equipes dentro das quatro linhas. E tudo isso vem sendo ratificado, e em triplo, na Copa do Brasil.

A magia da Copa de 2014 começou já na estreia. Em meio a cantos a plenos pulmões dos brasileiros, a Croácia, logo no início, deu-nos uma ducha de água fria. Em pleno Itaquerão, palco do trauma corintiano, nos lembrou da inauguração do estádio, quando o fraquíssimo Figueirense derrotou o dono da casa. O drama não se repetiu, entretanto, pois a maior estrela da seleção pentacampeã anotou dois tentos, colocando o Brasil na frente. O destaque, todavia, foi Oscar, premiado com o terceiro gol por sua brilhante atuação. Por sua habilidade (era água entre os croatas!), sua garra e sua assistência, foi o melhor em campo, junto com o implacável David Luiz. Zagueiraço!

Os maiores êxtases para os amantes de futebol, contudo, vieram depois: o atropelamento histórico e furioso da Holanda sobre La Fúria, atual campeã, foi, até o momento, o ponto alto deste Mundial que não decepcionou um segundo sequer dentro dos gramados. Robben e van Persie capitanearam um dos episódios mais memoráveis da história das Copas. No mesmo dia, porém, outras partidas, das quais não se esperava muito, também fascinaram: México venceu Camarões pelo placar mínimo, mas mereceu ter saído de campo com um 3 a 0 — que ocorreria, não fosse a péssima arbitragem — num jogo muito movimentado. Igual emoção não faltou em Chile 3x1 Austrália, jogado frente a uma invasão chilena em Cuiabá — e, neste ponto, como é bom ter a Copa disputada perto de países latinoamericanos e suas torcidas genuinamente latinas! Inobstante o placar, a vitória só foi decidida no fim, com um chutaço de Beausejour, porque a seleção da Oceania mostrou que teve motivo para ser transferida às eliminatórias da Ásia.

O terceiro dia começou com aquele que, a meu ver, foi o jogo "menos jogão" da Copa até o momento... e foi um 3 a 0. A Colômbia não teve problemas para passar sobre a fraca Grécia, mas o principal encanto foi a torcida colombiana, que, a exemplo da chilena, tomou Belo Horizonte, nos fazendo pensar, por alguns instantes, se o Mundial não estava sendo sediado de forma conjunta.

Logo em seguida — e esse episódio merece mesmo um parágrafo a parte —, a zebra debutou nesta Copa: Uruguai e Costa Rica se enfrentaram pelo grupo da morte, que conta com três campeões do mundo (além da Celeste, Inglaterra e Itália). Natural que a seleção caribenha, que vai à Copa apenas pela quarta vez, com um histórico de apenas três vitórias nas anteriores, fique em último, sem ameaças aos demais. Mas a seleção costarriquenha provavelmente é ávida leitora de Bertolt Brecht, que dizia: "nada deve parecer natural; nada deve parecer impossível de mudar". De virada e com uma atuação fantástica de Joel Campbell, a Costa Rica venceu o Uruguai por 3 a 1 e lidera o grupo da morte. O futebol é fascinante e a Copa do Mundo amplifica em 100% sua magia.

No referido grupo (D), como principal atração do dia, duelaram Itália e Inglaterra. Não se espera que será um jogo menos do que bom... mas estamos vivendo a Copa de 2014: a peleja foi espetacular! Regida pelo maestro Andrea Pirlo, a Azzurra, embora tenha encontrado uma forte Inglaterra de Daniel Sturridge, calou os que insistem em rotulá-la como a equipe do catenaccio e, pelos pés de Marchisio e Candreva e cabeça de Super Mário Balotelli, também produziu uma partida memorável no Mundial do Brasil.

No apagar das luzes do dia; no cobrir dos cobertores; naquela que poderia ser uma partida para os que sofrem de insônia; às 22h, Japão e Costa do Marfim produziram um encontro de mais torcidas entusiasmadas na Copa — e assim ficaram também os meros apaixonados pelo esporte bretão que assistiram ao match: após um primeiro tempo dominado pelo Japão, a Costa do Marfim, depois da entrada de Didier Drogba — que não participou de nenhum dos gols, mas comprovou, com sua lucidez ímpar, que não pode estar no banco — virou o jogo em dois minutos, com duas assistências de Aurier, dominando os quarenta e cinco minutos finais.

Nesta toada, a Copa pode durar até 2015. Cancelem os campeonatos nacionais! Ainda há muita bola para rolar e não tenho tanto conhecimento de Mundiais de outrora, mas talvez a Copa do Brasil esteja dando mostras de que, quem sabe, pode ser a Copa das Copas (ao menos dentro de campo). Uma coisa, porém, é certa: o início já é muito melhor do que os das duas anteriores. 8 jogos, 28 gols (média de 3,5 por jogo, a maior desde 1958) e oito grandes partidas. Desse jeito, não perderei um segundo nem de Irã x Nigéria.

Vinícius Franco
15 de junho de 2014

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